19 de out. de 2009

Montevidéu... Lá fomos nós...




No último feriado ( 10 à 13/10/09) demos um "pulinho" no Chuí. Aí, mais uma esticadinha até Punta Del Leste. E, para concluir, umas comprinhas em Montevidéu. Ou Montevideo.
Ótima viagem. Tranquila, confortavel e compensadora. Uruguay és muy bonito e tiene muchos atractivos...
E a "Ônix", corajosa, na chuva e no sol, levou-nos e trouxe com segurança.
Mais uma de nossas agradáveiS aventuraS.

29 de mai. de 2009


E seguimos
rodando
por aí...


Em agosto/2009 resolvemos curtir o oeste do Estado/SC. Apesar do frio, pudemos apreciar as belas paisagens, os incríveis pôr-do-sol.De Fpolis à Dionísio Cerqueira, um pulinho na Argentina e na volta uma esticadinha até Paranaguá onde acontecia o 10º Encontro Nacional de Motociclistas. Ótima viagem.


Algumas fotos

Relaxando...

Joaçaba Campos Novos...

Paranaguá PR

Treze Tilias

Igreja Chapecó

Divisa Brasil Argentina



2 de abr. de 2009

Começar é sempre um prazer


MotocicletAR... É demais!


Há muito o que dividir com quem pratica este maravilhoso esporte.

Temos muito pra contar.

Vamos lá...



Em janeiro/2009 nos aventuramos numa viagem ao Mato Grosso do Sul. Fomos até a cidade de Corumbá. Atravessamos o Pantanal e nos deliciamos com lindas paisagens e animais interessantes. Uma viagem cheia de emoções.
Algumas fotos
Portal do Pantanal
Estrada entre SP e MS

70km estrada de chão

Bodoquena - terra da onça

Posto em Bataguaçu

Chegando em Bonito

Centro cidade Bonito

Chegando Corumbá


Pantanal Ninho de Tuiuiu

Boiada segue pela rodovia
Estradas lindas, desertas, sem fim...



Relato
DE MOTO NO PANTANAL - Mato Grosso do Sul - 10/01/2009 à 17/01/2009


A viagem de moto ao Mato Grosso do Sul foi uma idéia que surgiu no momento em que nossa última jornada, a ida a Sta Maria /RS, era reproduzida no mapa onde são registradas todas as viagens que fazemos na Ônix, nossa motocicleta, uma Honda Shadow 600.
Como a maioria dos destinos de nossas viagens é voltada para o sul e o leste, resolvemos experimentar o oeste do Brasil. E foi definido o rumo. A princípio o Pantanal Mato Grossense.
Naquela noite, sentados no chão com o mapa aberto à nossa frente, traçamos um linha tênue, construindo uma sugestão de rota para o Pantanal, que há muito eu desejava conhecer.
Mais tarde considerando relatos, através da Internet, de motociclistas que já foram lá, comentários que chove muito nesta época do ano e a sugestão de amigos que se animaram a ir junto, optamos por ir, então, só até a tão famosa cidade de Bonito.

Marcamos a data, definimos o roteiro, provisionamos e nos preparamos para a aventura.

Fizemos as malas no dia anterior e saímos pela manhã do dia 10 de janeiro/2009, às 06h, de casa, no Bairro Ingleses. Chovia muito quando acordamos. Na verdade, pouco dormimos, tal era a ansiedade.
Levamos um alforje preso à moto, uma pequena mochila, que Sergio levou na frente e uma bolsa mochila que acomodei no nosso meio, durante toda a viagem.
No alforje foram as roupas, mínimo possível, tipo, uma calça jeans, três camisetas, uma muda para dormir e uma blusa de frio, cada um, fora as roupas íntimas. E claro, escovas de dente, desodorante, higienizador bucal, pente, creme hidratante, protetor solar, repelente, por razões óbvias, etc... Nos bolsos do alforje foram uma pequena lanterna, alicate, tesourinha, araminho, cordaõzinho, durex e outras possivelmente necessárias.
Devidamente trajados, capas de chuva sobre as jaquetas, botas de borracha, luvas, lenços e tal, depois de mil providências domésticas, partimos, ansiosos, mas seguros e cheios de planos para a viagem de férias.

A primeira parada foi no município de Tijucas, às 06h55m, onde completamos o tanque que tinha sido cheio no dia anterior, revisamos o alforje, que se encontrava coberto por um saco plástico de lixo, daqueles bem grandes que o envolveu, preso por dois extensores e que o mantinha seco. Estava tudo certinho e no lugar. Completamos o tanque de gasolina o que nos custou R$20,00.
A segunda parada foi no Posto Sinuelo, próximo de Joinville, onde tomamos um café, completamos o tanque(R$12,80), tiramos as roupas de chuva e de onde saímos às 8h30m. Enquanto abastecíamos, estacionou ao nosso lado uma moto 1700cc, pilotada por um policial de nome Pereira. Este, cordialmente questionou o destino da viagem e ao saber disse-nos que também já a havia feito, no ano passado, em companhia da esposa, também de moto. Este sugeriu uma nova rota mais segura, e uma estrada melhor, quando deveríamos passar por Presidente Prudente/SP, BR 267. Agradecemos e deixamos para decidir mais à frente.

Às 10h15m estávamos passando por Curitiba e em Campo Largo completamos mais uma vez o tanque(R$19,35) e tomamos um café.
Antes de Ponta Grossa, começamos a pagar os pedágios. O primeiro R$2,80 e ao me preparar para pagar o segundo, R$3,90, ao abrir o bolso da jaqueta, uma nota de R$10,00 saiu voando, o que fez com que Sergio parasse a moto quase no meio da pista e sair correndo atrás da cédula que era arrastada pelo vento, pelo asfalto. Foi cômico. Sergio a perdeu de vista e ao observar a cena, um funcionário do pedágio veio ver o que estava acontecendo e pedir para sairmos dali. Eu relatei o acontecido, porém, como não falei da quantidade de dinheiro que voou, este ficou todo preocupado e, aposto que, quando saímos, ele correu lá para ver se achava as “várias notas” que, supostamente, o vento me arrancara. Rimos mais adiante.

Quase em Ponta Grossa, às 11h30m, paramos no Restaurante Panorâmico, para almoçar. Em Ponta Grossa, às 13h15m, no posto ao lado do portal paramos para completar o tanque(R$12,00). A seguir, passamos em outro pedágio onde pagamos R$2,70. Neste momento, decidimos então mudar o percurso, atendendo à sugestão do policial de Joinville. Antes de Londrina abastecemos(R$20,00) e logo em seguida outro pedágio, no qual deixamos mais R$3,70. Cabe comentar que as rodovias no Estado do Paraná apresentam um ótimo estado de conservação, justificando assim os pedágios. Passamos por Apucarana às 17h e às 17h30m abastecemos em Arapongas(R$13,00). Aí já notávamos a cor diferente da terra, um barro escuro. A taxa do próximo pedágio, nas proximidades de Maringá, era de R$3,60. Às 18h paramos para tomar um lanche, na cidade de Rolandia. Às 19h20m passávamos pelo município de Porecatu/PR, divisa do Estado do Paraná com São Paulo. Ali abastecemos(R$12,00). Faltando 9 km para Presidente Prudente, às 20h nos hospedamos no Hotel Pôr-do-sol. Ficava à direita da rodovia e havia uma rampa arenosa até o grande portão de ferro, que dava para o pátio do hotel. Pareceu-nos seguro e confortável. Estávamos certos.

Na manhã seguinte, dia 11/01 chovia muito e, apesar de a moto ter ficado embaixo do abrigo, estava encharcada e Sergio batizou as botas ao ir pegá-la, nos cocôs de cachorro, que por sinal eram muitos. Claro que isto não tira o brilho da hospedagem que foi muito agradável( R$92,00). O proprietário, muito simpático nos deu atenção especial, principalmente apor saber que éramos de Florianópolis, cidade que ele conhecia e gostava muito. Saímos às 8h30m, após um reconfortante café, abaixo de chuva e abastecemos no posto seguinte.(R$9.90).
Próximo à divisa SP/MS, às 10h, paramos num posto, onde completamos o tanque(R$10,00). Chovia e ventava muito quando atravessamos a Ponte sobre o Rio Paraná, divisa do Estado de São Paulo com Mato Grosso do Sul. Eu queria fotografar, mas era difícil. Logo em seguida a chuva foi amenizando. E já não caía quando passamos em frente ao Posto de fiscalização de cargas e controle animal, logo adiante. Alguns quilômetros à frente, depois do Posto da Polícia Rodoviária Federal, paramos para fotografar os enormes cupinzeiros nos pastos e nas laterais da rodovia. Ali guardamos as roupas de chuva e começamos a experimentar o calor que aumentava a cada quilômetro percorrido e nos acompanhou por 80% da viagem. A rodovia entre a divisa de São Paulo/Mato Grosso e a localidade de Casa Verde, por mais ou menos 128 km, é deserta e se encontra em péssimo estado, cheia de costelas de Adão, prejudicando o desempenho da moto e requerendo muita atenção. Têm-se a sensação de que todos os parafusos da moto vão afrouxar e saltar fora. Neste trecho paramos a moto por alguns minutos e sentados e/ou deitados no centro do asfalto, tiramos algumas fotos para comprovar a falta de tráfego.

Após a localidade de Bataguaçu, na entrada da cidade, a qual não vimos, completamos o tanque num posto de gasolina suspeito, devido às condições dos equipamentos, com uma moça da qual suspeitei, pela insegurança no atendimento. Neste perímetro Sergio perdeu-se no trevo, sem própria, observada já no interior do Paraná. Neste trajeto nos demos conta da raridade de tráfego, da falta de postos de gasolina, que estávamos com o combustível no limite e sob o sol das 12h. E tudo o que víamos era uma interminável reta diante de nós, com discretas elevações e uma vegetação alta e seca. Quanto mais avançávamos, no tope de cada elevação, a esperança de visualizar um posto, ou uma paisagem diferente se frustrava, pois mais uma infinita reta, contornada do marrom da terra, se desenhava à nossa frente. Aí nasceu nosso primeiro desconforto e preocupação. Porém, sem alternativas, Sergio pilotando de forma a não aumentar o consumo da gasolina, seguimos, torcendo pra agraciar nossos olhos com aquela conhecida faixa, como costumam surgir, ao longe os postos de combustível. Finalmente chegamos à cidadezinha de Nova Andradina. Paramos num posto Esso, onde abastecemos(R$24,00) e mais adiante, num restaurante à beira da rodovia, meio a contragosto, devido ao calor intenso, almoçamos. Vale à pena salientar que no Mato Grosso o preço da gasolina varia de localidade para localidade, sendo, porém, mais cara que nos outros estados por onde passamos. Gasolina aditivada é rara por lá. E alguns postos vendem gasolina adulterada, o que viemos a constatar mais tarde.

Às 13h40m saímos de Nova Andradina com destino a Ivinhema, aonde chegamos por volta das 15h. Paramos num posto para abastecer(R$9,90). Exaustos pelo calor intenso, sentamos numa mesa, onde descalçamos as botas, porque o pé fervia e levantamos as pernas para relaxar um pouco. Fizemos um breve lanche, e comprei o meu primeiro suvenir. Um Tuiuiú, símbolo do Pantanal. Neste momento presenciamos uma cena desagradável onde um senhor pediu para o frentista abastecer uma Pampa e após informou que não tinha dinheiro para pagar. Disse que trabalhava para uma empresa de onde iria buscar o dinheiro para pagar. O caixa do posto, muito pacientemente, disse não poder esperar, porém o senhor, muito cara-de-pau, saindo disse que se não quisessem esperar, problema deles. E saiu numa boa. Todos só ficaram olhando. Ficamos nos perguntando - Se fosse na nossa terra, o que poderia acontecer?
Não nos demoramos muito, devido ao calor, e seguimos viagem em direção a Deodápolis. Reparamos no pó vermelho escuro, quase marrom que cobria o asfalto, a metade das casas humildes, as cercas, os postes, os pisos das pequenas vendinhas que surgiam na beira da rodovia. Observamos também que os moradores da localidade permaneciam sentados em cadeiras, à frente das casas ou às margens da rodovia, onde conversavam e/ou bebiam. Famílias com crianças, amigos observando quem passava pela rodovia empoeirada. Achamos que é por causa do calor, pois a maioria se amontoava sob árvores.

Passando a pequena cidade de Deodápolis, tipo um vilarejo, uns 14 km depois de asfalto marrom e seco, a moto simplesmente morreu. Simplesmente apagou. Para tentar fugir do sol escaldante, Sergio deixou-a correr até a sombra de uma árvore, e em frente de uma espécie de barzinho, tipo abandonado. Meu coração disparou. Sergio tentou fazê-la pegar. Não pegou. Parecia ter acabado a gasolina. A moto tinha partida, mas não pegava, como se a gasolina não chegasse ao carburador, sei lá. Não entendo nada, mas me pareceu isso.
O calor continuava infernal e o movimento de veículo naquela estrada era raro. O cenário era de uma cor marrom clara, tudo seco e poeirento. Era 16h e estávamos suados, cansados e com sede. A princípio ficamos apurados, sem saber o que fazer, considerando que era domingo, não tínhamos pra quem ligar, não passava ninguém e não fazíamos a menor idéia do que havia acontecido com a moto, pois tudo parecia em ordem, tanto na parte elétrica quanto na mecânica, havíamos abastecido e o tanque estava praticamente cheio. Foi quando, vindo pelo lado da casinha que parecia ser um barzinho abandonado, numa picada, um rapaz numa CG 125cc, parou e perguntou o que havia acontecido. Meio assustados, sem saber as intenções do moço, explicamos o que havia ocorrido. Este de nome José, aparentando uns 30 anos, muito atencioso, se propôs a levar o Sergio até a casa de um mecânico, conhecido seu, na localidade próxima, chamada Glória de Dourados há aproximadamente 3 km dali. Logo me veio à mente aqueles filmes de terror, quando um vilão, dando de bonzinho, carrega o mocinho para longe... rs Mas como não tínhamos outra saída e segundo o homem era perto dali, eu fiquei aguardando sentada à sombra em frente ao barzinho, claro, imaginando toda sorte de acontecimentos. Enquanto esperava, vindo pela mesma picada, de onde saiu o moço da moto, um senhor de meia idade, sem camisa, com a aparência de trabalhador rural, característica da região, meio desconfiado, aproximou-se, com um olhar preocupado e perguntou o que havia acontecido com a moto. Expliquei o ocorrido. Demonstrando interesse e entendendo minha apreensão, disse que o rapaz que levara o Sergio era gente de confiança, o que me tranqüilizou. Em seguida, para minha surpresa, ele abriu um janelão na casinha de madeira e pude observar que era mesmo um bar, equipado com frízer e prateleiras de produtos comestíveis. Ao ouvir-me queixar que o celular estava para me deixar na mão, sem bateria, rapidamente mostrou uma tomada perguntando se eu não tinha o fio para carregá-lo. E eu tinha, claro. Relaxei mais um pouco. Estaria mais segura com o celular carregado. Acomodei-o sobre o improvisado balcão, não tirando o olho dele, para o caso de o Sergio fazer contato. Neste momento surgiu pela rodovia uma jovem pedalando uma bicicleta carregando uma criança numa garupinha cor-de-rosa e parou no bar. Pediu uma Tubaína(gasosão), aquela bebida gaseificada que foi substituída pelos atuais refrigerantes, a qual dividiu com a pequena, sua filha, que vinha a escolinha. Eu que também estava com sede, aproveitei para conhecer a bebida que não é comum nos bares do Estado de Santa Catarina. Pedi e provei uma de limão. Doce, mas matou-me a sede naquele momento e serviu também para adoçar um pouco meu humor. Bom, com o tempo o senhor revelou-se uma pessoa agradável, agricultor prejudicado pela seca atípica naquela região e mais ainda pela política nacional de incentivo à agricultura. Falou dos seus tratores, da sua colheita, da única filha que mora distante, acadêmica de direito, do genro médico, e de outros assuntos, o que me ajudou a passar o tempo. Quando Sergio retornou, na garupa da moto do moço, ouvi meu suspiro. A notícia que me deu não foi das melhores, pois o tal mecânico, de apelido – Gordo, não se encontrava naquela localidade e só poderia ajudar dali uma hora e meia, quando retornasse. Nesse momento pensei num hotel. Foi quando o senhor do bar, comentou que também tinha uma moto e uma vez esta afogara. Explicou que havia puxado o afogador e a ligou acelerando. Esta tossiu e depois desafogou e pegou. Sergio resolveu tentar e fez o mesmo. Pois, para nosso espanto a danada pegou na primeira tentativa. Ufa! Está certo que também rezei pra isso. Bom, aliviados, porque a tarde já avançava e não necessitávamos esperar o mecânico, agradecemos a ajuda providencial dos amigos, trocamos apertos de mão e voamos dali.

Passando pela cidade de Vicentina, também como uma vilazinha cortada pela rodovia que passa pelo seu centro, paramos para tomar uma água e confirmarmos o trajeto. O dono do pequeno bar verde-choque, um senhor corpulento, jovem e suado como todos por lá, nos atendeu com simpatia, deu todas as informações e sugeriu passarmos no restaurante de sua irmã, na cidade de Rio Brilhante e dizer-lhe que ele o havia indicado.
Exatos quarenta e seis quilômetros depois, já entre as cidades de Vicentina e Fátima do Sul, novamente a moto apagou. Agora ficamos mais assustados. Já passava das 18h, embora o calor ainda queimasse, não havia árvores nem abrigo para nos protegermos do sol. E não estávamos perto de nada. Sergio depois de algumas tentativas frustradas de fazê-la pegar, conseguiu, com dificuldade, pois o celular estava instável, contato com aquele mecânico, o Gordo. Este informou que se conseguíssemos chegar à Fátima do Sul, há três quilômetros dali, teria como conseguir, através de amigos motociclistas, resolver o problema da moto. Mas onde estávamos era difícil. Sergio ficou de ligar em seguida, assim que refletíssemos sobre o assunto. Revendo todas as possibilidades, lembramos que a moto havia ficado parada uns vinte minutos sem ser tocada lá atrás e depois simplesmente pegou. Pensamos então que esta podia ser uma possibilidade. Torcemos então para que ocorresse o mesmo. Que se aguardássemos alguns minutos, talvez se ela esfriasse... Sem abrigo do sol, nos afastamos um pouco para o acostamento, sentamos no chão e suando terrivelmente, aguardamos. Neste momento passou por nós uma moto twister, 250cc. Sergio fez sinal para que parasse. O motociclista atendeu e Sergio pediu o favor para que o mesmo, ao passar por Fátima do Sul, informar-nos o número do telefone de uma oficina, ao lado da ponte, informada pelo Gordo. Deu-lhe o número do meu telefone, para que este ligasse a cobrar e agradeceu, após o rapaz comprometer-se a fazê-lo. Após uma meia hora, sem que o telefone tocasse, Sergio resolveu tentar fazer a moto pegar. Eu com os dedos cruzados e pedindo ajuda de meu anjo da guarda, fechei os olhos e me concentrei. Sergio na maior concentração deu a partida e ela lindamente pegou. Nossa! Foi como ganhar na loteria. Um grande alívio nos fez esquecer o calor que queimava nossos pés e todo o resto. Arrancamos-nos dali e às 20h chegávamos à agradável cidade de Rio Brilhante, direto a procura de um Hotel para nos hospedarmos, pois estávamos acabados. Ficamos no Hotel Vencedor, no final da rua geral que corta a cidade. Um hotel agradável, seguro, confortável e com ótimo preço.(R$60,00) E com um excelente café da manhã.
À noite, para exercitarmos as pernas, caminhamos pela cidade e fomos jantar. A cidade pequena, mas muito agradável, com seus habitantes super simpáticos nos cativou. Não fosse aquela poeira marrom, incrustada nos pisos, da frente de todos os estabelecimentos, pela manhã, ela seria ótima para morar. O comércio pequeno, mas com tudo o que pessoas de nossa idade precisam para uma vidinha tranqüila. Padaria, supermercado, ótica, lojas de confecções, sorveterias, lanchonetes, bancos, loja de pneus, lan houses, pizzarias, loja da Kodak, onde descarreguei a máquina fotográfica, armarinhos, clinicas médicas, odontológicas, etc. Até duas concessionárias autorizadas da Honda, uma das quais visitamos para conversar sobre o problema da moto. O mecânico muito atencioso, o que despertou um certo desconforto num cliente que aguardava ele terminar uma montagem em sua bis, deu algumas orientações, mas como íamos viajar antes do meio-dia, não poderia examiná-la antes disso, pois estava lotado de clientes.
Observamos que a quantidade de moto Bis circulando pela cidade era impressionante. Muitas jovens utilizam este tipo de veículo. Outra coisa que também nos chamou a atenção foi que parece que toda população da cidade vai para a praça central à noite. Em volta da praça, que tem em seu centro um chafariz com águas coloridas dançantes, de um lado, carros de jovens e adolescentes com poderosos aparelhos de som dançavam e se divertiam de outro lado famílias, com crianças lanchavam, de outro, casais transitavam calmamente, namorando, conversando. Num outro, um parque com muitas crianças e pais, se divertiam nem se importando com o calor que deixava seus corpos suados e brilhosos. Quando pela manhã, saímos para ir ao supermercado comprar pilhas conhecemos numa lojinha, na rua principal onde fomos pedir informações, um senhor, uma figura de setenta e seis anos que se disse o mais velho comerciante vivo da cidade. Ao nos ver, antes de dizermos qualquer coisa, reconheceu que éramos do sul. Estava sentado atrás de um balcão de madeira, numa cadeira com algumas roupas penduradas no encosto, no meio de mil objetos à venda. Ao fundo podia-se ver, através de uma cortina de um pano gasto, meio levantada, uma cama mal feita, onde provavelmente ele dormia muito humildemente. Percebemos, por suas palavras ser uma pessoa muito experiente, bem informada e ele nos contou, além de fatos de sua vida, algumas histórias sobre o pessoal da cidade. Também nos surpreendeu, quando ao perguntarmos sobre a localização do supermercado, este tê-los descrito detalhadamente, pedindo para dizermos aos caixas, que ele nos havia mandado. A princípio não entendemos. Depois constatamos, para nossa surpresa que era proprietário dos mesmos.

Na manhã seguinte, dia 12.01, deixamos o Hotel às 11h. Abastecemos(R$11,20) levando, a partir daí, mais a sério a escolha do posto e da qualidade da gasolina. Achamos que o problema da moto estava na gasolina. O problema é que é difícil achar gasolina aditivada por lá. Algumas vezes fomos obrigados a abastecer com a comum e em postos suspeitos.

Estávamos refeitos e a moto parecia perfeita. Sergio ligou-a, desligou-a, ligou-a. Pegamos a rodovia 267, no sentido de Maracaju. Muitas curvas e a estrada boa, mas sem acostamento. O calor aumentava à medida que seguíamos rumo ao nosso destino, 250km à frente, agora. Em Maracaju, completamos o tanque(R$10,00), tomamos água, fizemos lanche e seguimos para Guia Lopes de Laguna, onde mais uma abastecida(R$12,00), e necessariamente, tomamos mais água. Com o calor intenso, não conseguíamos sentir fome. Apenas sede. Muita sede. Às 16h atravessamos o portal de Bonito. Já começamos a fotografar as placas indicativas de distância da cidade há 10 km para nos animar.
Na entrada da cidade, paramos no posto BR, para pedir informações sobre a cidade, hotéis, pousadas, atrações turísticas. O posto tinha boa aparência e a entrada da cidade era ajeitadinha. O frentista muito simpático nos forneceu um mapa e disse que a cidade de Bonito em si, não oferecia nenhum atrativo. As atrações turísticas tão procuradas são distantes da cidade e em fazendas particulares. Vendo-nos cansados sugeriu que fossemos banhar-nos no Balneário Municipal. Um local pertinho e muito agradável para se passar o dia. Aproveitamos para completar o tanque com gasolina aditivada.

Bonito consiste em uma rua, de aproximadamente um quilômetro, adornada por umas estruturas como arcos de concreto, só que quadrados, onde tudo se concentra: lojinhas de suvenir, agências de turismo, restaurantes, lanchonetes, supermercado, farmácia, etc. Alguns mais simples, outros sofisticados. Uma praça chamada Praça da Liberdade, com o monumento das piraputangas, dois peixes enormes, bem esculpidos, que formam um chafariz colorido. Seguimos pela rua central, devagar, explorando, a procura de um hotel dentro das nossas possibilidades, pois fomos informados que a hospedagem era muito cara naquela cidade. Mais tarde vimos a certificar que tudo naquela cidade era caro demais. Observamos que, para uma cidade que explora tanto o turismo, tão divulgada pelo Brasil e também internacionalmente, estava com muito pouco movimento e com os hotéis quase vazios. Ao pesquisarmos os preços, nos deparamos com diversas propostas devido à concorrência. Assim nos instalamos no Hotel Canaã, na rua principal, com um ótimo desconto fechando a hospedagem por R$ 70,00. Recolhemo-nos ao quarto onde, nos refrescamos, ajeitamos as coisas e, lavei as roupas com as quais chegamos, pois estavam desastrosas, pendurando-as num varal improvisado dentro do quarto. Pela manhã as roupas estavam secas. Também, com o calor de lá...
Após um delicioso banho, 17h, colocamos roupa de banho e fomos conhecer o Balneário Municipal 6 km dali. Parte da estrada era asfalto e parte era de pedra. A moto trepidava tendo que manter a velocidade a 20 km/hora. Lá chegando, na portaria tivemos que pagar R$ 15,00 por pessoa, embora nativos não pagassem para entrar. Apenas turistas pagavam a taxa. Era um lugar agradável, amplo, campo gramado, rede de vôlei, com lanchonetes, um rio largo onde se podia tomar banho junto com os peixes, que chegavam a nos tocar. Algumas pessoas os alimentavam e eles pareciam estar bem acostumados com os banhistas. E eram grandes e muitos. À volta havia um camping, chuveiros, banheiros. Araras soltas pelas árvores, posando para as fotografias. Uma ótima infra-estrutura, com chuveiros, amplo estacionamento, praça de alimentação. E foi onde provamos a carne de jacaré e do famoso pintado. Mais ou menos. Risos. Fizemos fotos, tomamos banho, descansamos ao sol, ainda forte, considerando a diferença de uma hora para menos, naquele estado. Ficamos até 18h30m, quando balneário fechava. Retornamos para o hotel e mais tarde fomos passear na cidade. Havia um movimentozinho, alguns turistas, poucos. Estrangeiros, na maioria. Visitamos as lojinhas de suvenir e compramos umas lembrançinhas para o pessoal de casa. Tudo era muito caro. Fomos às agências de turismo consultar sobre os passeios e acabamos frustrados com os preços. Todos os atrativos estavam nas fazendas longe, tipo, 19 km a Gruta do Lago Azul, o aquário natural 8km, o parque das cachoeiras a 81km e não havia transporte da cidade para estas localidades. Era necessário marcar hora na agência e ir ao local com o veículo próprio, onde o responsável estaria esperando para a prática do lazer. Além do mais, os preços altos variavam de R$70,00 à R$200,00 por pessoa, para participar dos atrativos, o que ficou inviável pra nós, inclusive porque as rotas eram de chão o que não é adequado para o estilo da nossa moto estradeira, própria para asfalto. Acabamos optando pelos atrativos mais em conta e de acesso pavimentado.
Com o insuportável calor, mesmo à noite, procuramos um lugar para jantar. A gastronomia também é cara. Resolvemos fazer lanche e por um x-salada pagamos R$8,00. Isto o mais barato, pois a média era R$12,00. Ainda bem que estava delicioso. Naquela noite, quando provamos o sorvete de guavira, fruta regional típica, conversamos com um representante comercial que nos deu ótimas dicas e sugeriu que não deixassem de conhecer Miranda e Corumbá. Disse que veríamos diversos bichos, se cruzássemos o Pantanal, que em Miranda havia ótimas hospedagens e que poderíamos aproveitar mais o passeio, pois em Bonito não havia muito que fazer.

No dia seguinte, 13/1, às 9h partimos rumo a Miranda. Havíamos sido orientados, pelo comerciante, já que estávamos de moto, retornar à Jardim, passar pela localidade de Nioaque, ir à Aquidauana e então seguir para Miranda, perfazendo uns duzentos e tantos quilômetros, pois se fossemos direto de Bonito para Miranda a estrada tinha os 80 km iniciais de chão e cheia de buracos, praticamente deserta e perigosa. Porém ao fecharmos a conta no Hotel o recepcionista nos informou que economizaríamos mais de 100 km se fossemos direto e que a estrada era ruim, mas valia a pena tentar. Que ele acreditava que não seria tão difícil. Resolvemos então ir até seu inicio para avaliar. Realmente era meio assustadora, de um cascalho solto, onde a moto rodava com dificuldade. A princípio ela cortava um vilarejozinho, cujos moradores pareciam índios e circulavam pelas margens, meio desconfiados. Fomos cuidadosamente avançando, a uma velocidade de 30k/h testando as possibilidades. Sergio nunca havia arriscado andar em terra de areia solta com a moto, por muito tempo e pediu para que eu me mantivesse imóvel, para não balançá-la muito. Comecei então a ficar preocupada, pois costumo ficar à vontade me virando pra cá, pra lá, abrindo bolsa, esticando a perna, mudando de posição, olhando por todos os ângulos. Bom, mas fomos tentando. E o calor aumentando. Quando a estrada começou a piorar já tínhamos rodado mais que 10 km e sempre na esperança dela melhorar. Entre uma paradinha e outra para tomar água das garrafinhas, fomos seguindo. De vez em quando eu me lembrava das estranhas paradas da moto. E quando isso acontecia eu olhava pro céu e cantava baixinho a minha musiquinha preferida – “Sou feliz senhor porque tu vás comigo, vamos lado à lado és meu melhor amigo”. Após 50 km, já estávamos meio apavorados com o calor, a trepidação, os buracos e a ausência de veículos. Não passava ninguém. Diversos rios com pontes de madeira, mal conservadas, necessitando de muita perícia para passar pelos trilhos irregulares. E haviam rios ocultos pelas sombras das árvores. Numa das paradas embaixo de árvores, Sergio me mostrou que, uns 100m atrás um bando de macaquinhos cruzavam a estrada. Quando peguei a máquina para fotografar, eles se esconderam. Fiquei esperando e quando guardei a máquina tornaram a atravessar a rua. Estavam atentos aos nossos movimentos, pois nos espiavam de longe. A partir daí, começamos a ficar mais atentos aos barulhos e movimentos dos arbustos e árvores. Estas balançavam muito devido ao grande número de pássaros que nela pousavam e saíam em bandos. Também em nossas paradinhas escutávamos, além do dos sons de inúmeros pássaros, sons estranhos de coisas arrastando. E num desses momentos, quando paramos para beber água ouvimos um barulho do mato abrindo, e de alguma coisa correr e arrastar algo, o que Sergio disse ver, muito rapidamente, algo parecido com uma cauda grossa, parda, como de um esquilão. Subimos rápido na moto e saímos meio assustados. Devia ser um tamanduá. O tempo parecia não passar e àquela altura eu já estava pedindo pro meu anjo da guarda encurtar a estrada, que parecia interminável. Às vezes ela parecia uma serpente, com as árvores e arbustos invadindo seus dois lados. Agora tínhamos só uma garrafinha da água já no fim e não sabíamos quando apareceria um posto de gasolina, apesar de estarmos controlando a quilometragem. Após 77 km, chegamos ao trevo de Bodoquena, cujo monumento tinha uma onça esculpida e pensei – será que tinha onça nesta estrada por onde passamos, que medo! rs. Bem, graças a Deus chegamos a um posto de gasolina. Num lugar deserto, o posto pequeno tinha um único frentista, um rapaz muito simpático e uma moça no caixa na salinha de conveniência. Também muito gentil, nos orientou quanto à direção que deveríamos seguir, comentou que de vez em quando aparecem motociclistas por ali, assim como nós, exaustos. Conversamos sobre diversos assuntos e ela contou que naquela localidade, pela manhã, quando eles chegam para trabalhar, aparecem muitos bichos, principalmente tamanduás.
Era 11h quando, após abastecermos(R$9,00), fazermos um lanche meio forçado, porque não tínhamos nenhuma fome, apenas sede, finalmente pegamos uma estrada boa, asfalto conservado e rumamos para Miranda.

Às 12h30m chegávamos em Miranda, onde perguntamos para um moço, numa oficina de moto, logo na entrada da cidade, onde havia um posto de gasolina. Este estava ao telefone e aguardamos ele terminar de falar, num calor danado, embaixo do sol, com os pés queimando e o capacete molhado de suor. Quando, depois de alguns muitos minutos, terminou, ele não sabia explicar e chamou outro rapaz que deu uma explicação meio confusa. Tivemos que perguntar de novo e desta vez para um rapaz numa Bis que nos guiou até o posto e informou onde havia um bom hotel para ficarmos. Num posto Ypiranga, bem estruturado por sinal, corri para dentro da loja de conveniência para fugir do calor que àquela altura estava sufocante. Enquanto isso Sergio abastecia, calibrava os pneus e trocava o óleo da moto.(R$45,00). Neste momento Sergio pediu pra eu passar meu cartão porque o dele, estranhamente não estava passando. A moça do caixa, uma jovem de 18 anos, foi muito receptiva, disse que nos achava muito corajosos, e que nos admirava por isso. Falou também que já ouvira falar de nossa cidade e desejava um dia conhecê-la. Ficou ainda mais empolgada quando falei que naquela hora eu sentia falta da praia. Desejava ver o mar. rs Ela nos orientou a irmos à Zero Hora, em frente a uma espécie de rodoviária, na entrada oficial da cidade, onde conseguiríamos todas as informações sobre hospedagem, gastronomia e atrações turísticas da cidade. Assim fizemos. Lá, ao estacionarmos a moto, viramos uma atração chamando a atenção das pessoas que aguardavam os ônibus. Entramos num portal de informação turística, uma casinha de madeira rodeada de janelas de vidro e com ar condicionado, que beleza, e conseguimos todas as informações necessárias. Mais uma vez desanimamos em relação aos passeios turísticos que funcionavam igual em Bonito. Tudo era em fazendas. Os preços das hospedagens nas fazendas variavam de R$280,00 a R$400,00. Isto hospedagem, café da manhã e os passeios, por pessoa. Pegamos os nomes dos hotéis e saímos para ver qual melhor nos convinha. Os preços também meio salgados tipo, R$120,00 e depois de visitar três deles, resolvemos ir ao que o rapaz da Bis havia indicado. Hotel Brasil. Depois de alguma conversa, os preços iam baixando. Este saiu em conta(R$60,00) e muito agradável. A dona, uma senhora muito simpática, nos mostrou os quartos e escolheu o melhor deles, com ar condicionado, claro. Eu nem queria pensar na possibilidade de ter que dormir sob um ventilador. A moto ficava estacionada em frente ao apartamento e dentro do pátio, que era fechado à noite. Tudo muito limpinho, ajeitado, uma decoração típica, cheia de entalhes em madeira, esculturas, lindíssimas, feitas por seu esposo, um verdadeiro artista. E incrível, ele nunca vendeu suas obras. Ele as produz apenas pelo prazer de fazê-las. Havia uma enorme onça, de 1m30cm, diversos bustos, tuiuiús em tamanho natural, harpas, cobras enormes, armas indígenas e tudo de muita perfeição. São verdadeiras obras de arte. Senti-me num vernissage. Fotografei as peças, de tão encantada que fiquei. Bem, depois que entrei naquele apartamento, liguei o ar condicionado e entrei no chuveiro. Era tudo o que eu precisava para voltar a raciocinar direito.
Saímos pra jantar. Fomos a pé, pra exercitar os joelhos, a parte do meu corpo que decide quando é hora de dar uma paradinha quando estamos na moto. O dia inteiro sentados na moto só é possível compensando com caminhadas à noite. Como em todas as cidades anteriores, o calor leva as pessoas a ficarem nas ruas, sentados, conversando, comendo e bebendo. Também em Miranda, à noite, ao longo da rua principal, muitas mesinhas e cadeiras são colocadas nas calçadas e vira uma festa. Já cheguei exausta por causa do calor que abaixa a pressão e provoca tonturas e sentamos numa mesa ao lado dos trilhos de trem, que ficam numa espécie de valão, paralela à rua central e demarcado por uma cerca de madeira trabalhada. É tudo bem conservado e agradável. Não fosse o calor, eu permaneceria ali a noite toda tomando uma cervejinha. Ao pedir o menu, ficamos surpresos com os preços. Era muito barato. E gostoso. Imagine que um lanche, um x-salada caprichado custava R$1,50. Os preços lá não têm uma lógica. A dona do hotel nos disse que Miranda foi uma cidade igual a Bonito, que atraía muitos turistas e explorava muito.

Foi uma noite bem dormida, aquela. Ao acordarmos pela manhã do dia 14/1, fomos nos informar sobre a distância até o Pantanal e Corumbá. Sergio voltaria frustrado, se não visse os bichos do Pantanal. A dona do hotel nos convenceu que seria um ótimo passeio. Nosso problema era a gasolina. O tanque não tem autonomia para os 160 primeiros km sem posto, dos 220km até Corumbá. Então, Sergio encheu duas garrafas de coca-cola 2litros, colocou no alforje menor(o alforje tem uma frasqueira), colocamos roupas e calçados frescos, sem as botas desta vez, nos besuntamos de repelente, levamos água e partimos. Antes de sairmos ao passar no posto para abastecer, o frentista deu algumas orientações e recomendou que não atravessássemos o Pantanal ao anoitecer, pois os bichos vão para a estrada e é perigoso. Mas como estávamos saindo cedinho, estaríamos de volta já no final da tarde.
Pegamos a estrada às 8h quando o sol já começava a esquentar. Passamos protetor solar e fomos embora. Assim que saímos de Miranda, atravessamos uma comunidade à beira do Rio Miranda onde havia alguns hotéis que ofereciam passeios de barco para conhecer o Pantanal e pescar. Havia algumas casas, à beira da rodovia, no início. Depois começaram a rarear. E desapareceram. Então o cenário foi se transformando. Olhávamos para todos os lados a procura dos bichos. A estrada boa, sinalização perfeita, e paisagens lindas. Gramados, pastagens, árvores enormes, arbustos, todo tipo de vegetação. Lagos, banhados... Logo vimos o primeiro Tuiuiú. Voou por cima da estrada. Alto, à nossa frente. Era enorme. Nós dois apontamos juntos pro céu e o acompanhamos, até sumir entre as árvores. Dali pra frente, vimos diversos deles nos banhados. Quando eles estão parados equilibram-se numa perna só e são desajeitados. Eles são altos, têm mais de um metro de altura. Cervos pastando, jacarés mergulhado, com os olhinhos pra fora, araras pousadas ou voando, capivaras caminhando tranqüilas, uma quase atravessa a rodovia à nossa frente. Mas parou, nos olhou e voltou calmamente. Emas paradas, comendo, correndo, gaviões, pássaros diversos, de todas as cores e tamanhos, cardeais em bandos. Tamanduás, só os vimos mortos pela estrada. Eram enormes. A primeira parada foi para fotografar um enorme ninho de Tuiuiú, numa árvore, a uma altura de uns seis metros, quase à beira da estrada. Enorme. Em Miranda já haviam nos falado sobre ele. Existe até um círculo de asfalto, embaixo da árvore, próprio para estacionar e observar o ninho. Conforme o pessoal da região, o Tuiuiú retorna todos os anos para este ninho onde choca ovos. Nas paradas, íamos abastecendo o tanque com a gasolina das garrafas, tomando água, nos refrescando à sombra das árvores e ouvindo o barulho de coisas invisíveis que se arrastavam pelo mato. Víamos as mais incríveis espécies de pássaros, alguns sobre o asfalto, outros voavam sobre nossas cabeças. Chegamos à Ponte do Rio Paraguai. Parecia uma rampa que ia acabar no topo. Descemos ao lado dela, na beira do rio onde havia um posto do exército e um barzinho muito rústico. Havia também diversos barcos de transporte atracados. Ali tomamos refrigerantes, e conhecemos um fazendeiro, Dr. João, como se apresentou. Este nos alugou durante uns 30’, contando sobre sua saúde delicada, sua profissão – jurista, abandonada pela paixão da vida na fazenda. Gabou-se da estrutura de sua fazenda com suas atrações, cujas diárias custavam R$400,00 por pessoa. Neste momento pude deliciar-me com a visão de cardeais, pelo chão, voando, pousados na moto. O calor desencorajava a fazer qualquer coisa. Nem caminhar até a beira do rio deu vontade. Queria mesmo era subir na moto e ligar o ventilador(rs). Meia hora depois, seguimos viagem carregando nome, endereço, site da fazenda(www.moradadopeixe.com.br)e mil recomendações do simpático fazendeiro.
5Km à frente chegamos ao posto de gasolina. Porém abastecemos com a outra garrafa cheia de gasolina que carregávamos e que seriai suficiente. Tomamos água e descansamos um pouquinho os joelhos. Aquele era um posto feio, estranho, sem suvenir, sem ar condicionado. Apenas uns dois ventiladores, barulhentos voltados pra um balcão sem graça num cenário cinza, Tudo era cinza. Então continuamos o passeio, admirando a paisagem, os animais e repondo o filtro solar, pois as lufadas de calor, tipo, quando se abre o forno super quente, assava nosso rosto e mãos expostas.
Após 70km, era 15h, quando chegamos ao portal de Corumbá. Um arco de concreto demarca a entrada da cidade. Logo no início, num posto de gasolina feinho, perguntamos como ir para o centro da cidade. Orientados seguimos até o próximo posto BR, onde abastecemos a moto e novamente enchemos as garrafas de coca com gasolina para o retorno. Novamente enfiei-me na loja de conveniência para refrescar-me. Fomos então conhecer o centro de Corumbá e almoçar. Lá sim, parecia o inferno. O calor não deixava raciocinar. Sergio bem que disse, que se o diabo morava ali ele tinha ar condicionado. Não sei como aquele povo se movimenta, trabalha e leva a vida assim, sem esta indisposição que este calor nos acomete. Engraçado como o corpo se adapta às diferentes temperaturas. A cidade é grande, muitas lojas populares, um comércio movimentado e com muitas pessoas circulando e muitos veículos trafegando pelas ruas. Cheio de sinaleiras. Descemos uma rampa e fomos até o Porto Geral, onde ficam atracadas as embarcações, tipo chalanas. Com três andares, munidas de restaurantes, piscinas, shows, próprias para passeios turísticos. Como não é época de pesca não há muitos turistas na cidade e as embarcações estão desativadas. Também as lojinhas de suvenir, como um mercado público, ao longo da rua portuária, se encontravam fechadas. São construções antigas, coloridas, que de certa forma, lembram o Porto de São Francisco do Sul, em Santa Catarina. Circulamos um pouco, descemos e subimos umas ladeiras, fomos ao mirante, que se encontrava num completo abandono, com muita sujeira, como se tivesse acontecido uma enchente e toda aquela sujeira ficasse acumulada num pátio. E, como não havia mais o que ver, o calor estava insuportável e não queríamos pernoitar lá, resolvemos voltar.
Passava das 16h quando pegamos a estrada de volta. Como já conhecíamos o caminho, havíamos fotografado os animais, as paisagens e a hora avançava, Sergio resolveu acelerar, diferente da vinda quando não passamos de 80km/h. Lá pelas tantas, faltando uns 70km para chegarmos à Miranda, vimos, ao longe, alguma coisa branca, a princípio como fumaça, interrompendo o asfalto. Fomos chegando perto e para nossa surpresa, uma boiada saindo da lateral da rodovia, entrava nela, cobrindo-a e, seguindo por ela interditava o trânsito. Paramos no acostamento, um pouco atrás, sem saber como seguiríamos e por quanto tempo teríamos que esperar para que a estrada estivesse livre daquilo que parecia um mar de bois brancos. Foi quando veio um caminhão e, em baixa velocidade, foi entrando devagar, no meio da boiada, que abria na sua frente e fechava na sua traseira envolvendo-o. Não sabíamos como seria com a moto, se fizéssemos o mesmo. Além do mais a boiada ia deixando um rastro de bosta fazendo o asfalto ficar todo verde. (rs) Em seguida veio um carro pequeno e percebemos que ele ia fazer o mesmo que o caminhão. Sergio sugeriu colarmos na traseira do carro e seguir no seu rastro. Assim fizemos e vimos que os bois não gostavam muito do barulho da moto, que precisava ir muito devagar, quase parando em baixa aceleração, para não assustá-los. Eu estava tremendo de medo e nem piscava. Os bois não simpatizaram muito conosco, concluí pelos seus olhares desconfiados e os pulinhos que davam ao lado da moto. Em alguns momentos até fechei os olhos. Assim seguimos rodeados por aquela boiada, por 2 km, até nos livrarmos dela, e pegar a estrada livre. Na frente vão seis cavalos soltos, com sinos no pescoço, que guiam os bois. Os boiadeiros, vestidos a caráter, homens magros, envelhecidos, de feições duras, segurando relhos, eram quatro e estavam no meio dos bois, assobiando, fazendo sons estranhos, mas bem conhecidos dos animais que os atendiam. Eles pareciam mesmo aqueles bonequinhos de suvenir. Quando livres, Sergio girou a mão voltando a acelerar, afastando-nos rápido da extraordinária experiência. Só então voltei a respirar normalmente. Por pouco tempo. Percorridos uns 2 km a moto tossiu e apagou. Aconteceu de novo. Aquele problema do, talvez, entupimento do carburador em conseqüência, provavelmente, da sujeira na gasolina daquele posto em Bataguaçu. Na verdade não sabíamos o que estava acontecendo com ela. Mil conjecturas. Bem, mas desta vez já tínhamos uma idéia de como proceder. Deixá-la parada, de lado, por uns 20’, até que o carburador enchesse, ela esfriasse e assim quando desse a partida, com o afogador puxado, dar fortes aceleradas para desentupir o chiclê do carburador, sei lá... Ufa! Mecânica... E eu de olho na boiada que vinha vindo ao longe. Fiquei assustada, com medo de que a moto não pegasse e os bois alcançassem a gente. Empurramos a moto para mais adiante, ao lado de uma placa para nos protegermos e à moto, para o caso de a boiada chegar até a gente. Não havia acostamento e ao lado da rodovia havia valões, cobertos por vegetação. Ainda corríamos o perigo de a moto escorregar pela encosta. Esperamos o tempo necessário e ela não pegou. Esperamos mais 20’ e suados, tomamos o resto da água que tínhamos, pois o sol parecia visitar a terra, lá naquele lugar. E não é brincadeira, mas a borrachinha que separava a sola do neoprem do meu calçado descolou com o calor. Na segunda tentativa então, a moto pegou e eu olhando para a boiada que já se aproximava, pulei na garupa, ouvindo-a rugir como um bicho feroz e saímos voando dali. Mas nossa alegria durou pouco. 22 km depois, faltando uns 60 km para chegarmos à Miranda a moto voltou a morrer. Passava das 18h. Agora fiquei mais preocupada em função do horário. Embora o sol ainda estivesse alto, tive medo de ficarmos parados ali até anoitecer. Lembrei do conselho do frentista do posto sobre estar naquela estrada ao anoitecer. Então tentamos a primeira vez e ela não pegou. Tentamos a segunda e nada. Resolvemos sentar e esperar. Analisando o rosto do Sergio, sempre esperançoso, sugeri empurrarmos a moto até a sombra de uma árvore à beira da rodovia. E ela ficou na beirinha da estrada, pois não há acostamento nas rodovias por lá. E esperamos. Sergio tentou ver se havia mais alguma coisa errada, pelo fato de ela não pegar e ao passar o dedo por baixo do tanque soltou o cano da gasolina que imediatamente começou a escorrer. Ele estava do lado direito da moto e gritou para eu fechar. Eu não tinha visto e não sabia o que. Desesperei-me quando vi a gasolina correndo e então entendi que era pra fechar a torneirinha. Nossa, que stress. Naquele momento senti pânico. Quase ficamos também sem gasolina. Daí ia ser difícil. Mas não perdemos muito combustível e não sei em quantas tentativas depois, quando eu já estava perdendo a esperança, e aí cantei a minha segunda musiquinha preferida – “O senhor é meu pastor, nada me faltará, se me conduzires...”, ela pegou. Durante este tempo, mais ou menos uma hora em que ficamos ali, devem ter passado uns cinco veículos, entre eles um trator, cujo motorista fez sinal que, na volta pararia para ajudar. Antes de ele voltar já estávamos retornando. Suados, sujos, cansados, estressados e irritados, por volta das 19h chegávamos a Miranda, sonhando com um chuveiro. Depois do desejado banho, uma relaxada na cama sob o ar condicionado e quando acabou a novela da Flora(rs), saímos para caminhar e lanchar. Desta vez apenas subimos a rua e já paramos na lanchonete mais próxima. Não estávamos dispostos a andar muito. Muita gente na rua, como sempre, por causa do calor.

Então, às 9h da manhã seguinte, 15/1, tudo pronto, alforje fortemente preso à moto, encapado com o saco plástico, sob um sol quente, pegamos o asfalto, retornando para casa. Desta vez por outra rota. Passamos no Posto para abastecer(R$18,00), onde me despedi da Fernanda, a simpática menina do caixa. Desejou-nos ótima viagem, trocamos telefones e fiquei com sua promessa de, quem sabe um dia, uma visita. Ao passar meu cartão no débito para pagar o combustível, a transação não foi autorizada. Não entendi o porquê, mas passei no crédito e tudo bem. Fiquei preocupada com isso, mas tudo bem, pois ainda tínhamos dinheiro conosco. Desta vez pegamos a rodovia 262 e a primeira parada foi em Anastácio, cidade ao lado de Aquidauana, para abastecer(R$11,00). Uma frentista muito faladeira e atenciosa, provavelmente apaixonada por motocicletas, aproveitou para satisfazer todas as suas curiosidades sobre a moto – ano, preço, autonomia, etc. Seguimos viagem tranqüilamente. Passamos por diversas localidades entre elas, um lugar chamado Terenos e lembrei do Centro Referencial de Cultura Terena que visitamos em Miranda. Muitos produtos expostos, tipo, cerâmicas, colares, brincos e diversos artefatos produzidos por aquela comunidade indígena. Durante este percurso começou a chover. Paramos, vestimos as roupas de chuva e seguimos mais devagar, parando num posto para abastecer(R$15,00), onde encontramos quatro motociclistas, o pai e três filhos, vindos de Bonito e indo para Londrina. Eles perguntaram se seguiríamos juntos, mas como íamos demorar, ficamos para ir mais tarde. Às 12h30m chegamos a Campo Grande. Resolvemos entrar na cidade e procurar uma Agência do Banco Real para ver o que estava acontecendo com o meu cartão. A esta altura tinha parado de chover. Campo Grande é uma cidade muito bonita, movimentada, arborizada e com longas e largas avenidas. Chegamos à agência e Sergio teve que aguardar no estacionamento, pois não dava pra deixar a moto sozinha por causa do alforje. Tirei a blusa de chuva, mas fiquei com a jaqueta de couro e tive que entrar na agência assim mesmo, embora percebendo os tantos olhares desconfiados que me seguiam os passos. Apo aguardar chamarem o número de minha senha, entre caixa eletrônico, telefone do disk Real, atendimentos no balcão, gerente e tudo mais, foram quase 2h lá dentro. E eu preocupada com o Sergio esperando. Bom, a gerente que me atendeu, muito atenciosa, de nome Elvira, me explicou que quando o cartão de um cliente é usado fora de seu estado, a Central de Fraudes bloqueia provisoriamente o cartão para forçar o cliente entrar em contato e confirmar o uso. Só aí desbloqueia. Eu não sabia que deveria informar, através do Disk Real que ia viajar e usar o cartão. Essa é boa! A gerente teve que fazer uma justificativa, com diversas informações, onde tinha ido, quando voltaria pra casa e mil dados para confirmação. Bom, feito isso, após quase 2h, deixei a agência meio invocada, mas tudo bem, já que o problema seria resolvido. Eram mais de 16h quando deixamos a cidade. Depois de 1h, passando por uma localidade chamada Anhanduí, a corrente da moto afrouxou e começou a bater. Paramos para procurar uma oficina. Saímos da rodovia, e depois de rodar por um tempo numas estradas de barro molhado, que parecia um sabão, onde a moto dançava, achamos a oficina fechada. Estávamos cansados e resolvemos pernoitar numa pousada logo em frente, de nome Bahia. Pareceu-nos seguro, e o dono é um baiano muito gentil que nos deixou muito à vontade. É uma pousada simples, mas nosso interesse era descansar e na manhã seguinte ir à oficina para consertar a corrente. Estava vazia e ele disse que mais tarde lotava. E realmente, chegaram muitos carros durante toda a noite. Sergio foi a um mercado próximo, trouxe alimentos e nem saímos do quarto.
Na manhã seguinte, 9h, a oficina permanecia fechada então resolvemos ir adiante e na próxima localidade, Nova Alvorada, paramos numa oficina, apertamos a correia e seguimos em frente. Paramos na localidade de Casa Verde, no posto para abastecer(R$14,00) e fugir um pouco da chuva que estava muito forte. Passamos pela divisa MS/SP e às 15h estávamos passando por Presidente Epitácio. E devido à chuva paramos algumas vezes chegando em Presidente Prudente às 17h. Ali nos instalamos no Hotel Rodomax(R$60,00).

Na manhã seguinte, 9h, do dia 16/1, também com chuva pegamos a estrada. Assim viemos parando nas diversas cidades - Rolândia, Arapongas, onde parou de chover, Apucarana, Mauá da Serra, Ortigueira e outras. Uma viagem tranqüila, e sem surpresas. A moto parecia ter esquecido seu probleminha e nós também. Descíamos a serra de Curitiba às 19h. Um tremendo movimento. Em Joinville, paramos para jantar e comemoramos o retorno, pois já estávamos praticamente em casa. Porém, ao passar por Camboriú, a moto tossiu e morreu. Sergio acelerou forte, enquanto ela corria no embalo, ela fez que ia pegar e apagou. Nem acreditamos, pois ela tinha vindo tão bem. Até pensamos que aquele problema havia acabado. Mas tudo bem, já sabíamos o que fazer. Como estava escuro, empurramos a moto mais à frente até um poste e esperamos os 20 minutos necessários. Tentamos, ela não pegou. Esperamos mais 20minutos, ela pegou e apagou. Esperamos outros 20’ e ela pegou, mas num só pistão, como disse o Sergio e depois morreu. Então percebemos que desta vez não ia ser fácil. E o tempo foi passando e o cansaço chegando. Mandei mensagem para a filha, que já nos esperava, dizendo que havíamos parado por ali, mas não queríamos incomodá-la àquela hora, pois já era 10h30m. Por sorte havia um hotel no outro lado da pista. Então decidimos pousar lá, não tínhamos pressa mesmo, embora há menos de duas horas de casa. Mas não havia outro jeito. Estávamos molhados, famintos e cansados. Só que para chegar lá, tínhamos que fazer um retorno por um viaduto. Empurramos a moto por todo o percurso, o que não foi fácil, considerando que o viaduto era uma rampa e tanto e nos acomodamos no Hotel Cottone.

Dia 17/1, pela manhã, fizemos contato com nossa filha e pedimos para que ela avisasse ao mecânico que dá manutenção à moto para buscá-la. Ele veio, rebocou-a e voltamos para casa de carona com nosso genro, filha e neto, nos divertindo ao contar nossa aventura.